A Fome de Djonga: Rapper mineiro consagra sua história em noite Épica no Espaço Unimed

Com participações que foram de Samuel Rosa a Dexter, e uma cenografia guiada pela força de Exu, Djonga transformou a véspera do Dia da Consciência Negra em um manifesto visual e sonoro de resistência

Djonga
Crédito: Pierre Augusto

Por Elder Oliveira

Se o palco é um lugar de fala, na noite da última quarta-feira (19), véspera do Dia da Consciência Negra, Djonga o transformou em território sagrado. Diante de um Espaço Unimed lotado na Barra Funda, o rapper mineiro apresentou a turnê de seu álbum indicado ao Grammy Latino, “Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto”, provando que sua obra transcende os números de streaming para se tornar uma experiência cultural complexa.

O que se viu não foi apenas um show de rap, mas um espetáculo teatral dividido em atos. Cumprindo a promessa de realizar uma “festa de resistência preta”, a narrativa da noite foi conduzida pela figura de Exu. A entidade, orixá da comunicação e do movimento, foi representada tecnicamente em dois corpos (humano e animal), abrindo os caminhos para um Djonga que surgiu “coroado” por uma tiara de olhos, símbolo da responsabilidade de quem enxerga seu próprio percurso e lidera uma multidão.

Encontros de Gerações

A “fome” descrita no título do álbum se materializou no palco, Djonga atuou como um maestro de diferentes vertentes da música brasileira, orquestrando um line-up de convidados que funcionou como uma linha do tempo da música preta e periférica.

A “velha guarda” e a referência moral do rap nacional se fizeram presentes na figura de Dexter, parceiro de longa data do anfitrião. Já a nova geração e as melodias do R&B e do Grime foram representadas por Budah, Vulgo FK, Febem e RT Mallone.

Crédito: Pierre Augusto

No entanto, um dos momentos de maior catarse foi a união de Minas Gerais no palco. A participação de Samuel Rosa (na faixa “Te Espero Lá”) e Marina Sena (colaborando ao vivo pela primeira vez com o rapper) reforçou a tese central do show: a música preta brasileira não cabe em caixas, ela ocupa todos os espaços, do rock ao pop.

Muito Além da Rima

A apresentação fugiu do formato tradicional “DJ e MC”. Acompanhado de uma banda completa, com destaque para um naipe de metais e um coral potente, as músicas ganharam novos arranjos que flertaram com o jazz e a MPB. Visualmente, o show dialogou com a cultura ballroom e a dança de rua, com bailarinos trazendo para a cena a expressão corporal periférica em sua máxima potência.

As letras do novo disco, que já acumulavam milhões de plays na estreia, foram gritadas pelo público como hinos. Temas como masculinidade, cura, ancestralidade e desigualdade social saíram dos fones de ouvido para ganhar corpo e dramaturgia ao vivo.

Ao final da noite, já na madrugada do feriado, a sensação era de que o público havia participado de um rito. Djonga não apenas cantou sobre sua fome de vida e transformação, ele serviu um banquete de referências, coroando sua trajetória como um dos artistas mais vitais e necessários da música brasileira contemporânea.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

GIPHY App Key not set. Please check settings

Written by Redação CB

Amanda Azevedo fala sobre indicação de “Melhor Atriz de Comédia” no Rio Webfest e revela expectativas para o evento 

Grupo de rap Expressão Ativa lança single “1 Poeta Triste” do álbum “Estrada 33”