“C.I.C. – Central de Inteligência Cearense” – 007 brasileiro desliza em clichês e exageros

Novo filme de Halder Gomes, estrelado por Edmilson Filho, mistura ação e humor nordestino, mas entrega uma comédia irregular que não sustenta a proposta de um superespião nacional.

C.I.C. – Central de Inteligência Cearense. Foto/ Divulgação

Por Elder de Oliveira

Nos últimos anos, o cinema brasileiro tem se arriscado em terrenos pouco comuns, e “C.I.C. – Central de Inteligência Cearense” entra nessa onda ao tentar misturar ação e espionagem com um toque bem local. Dirigido por Halder Gomes e estrelado por Edmilson Filho, o filme traz Wanderley, o Agente Karkará, uma espécie de 007 à moda cearense, com sotaque carregado, braço biônico e muito improviso. A ideia é divertida e o elenco tem carisma, mas o resultado acaba irregular, em alguns momentos empolga, em outros escorrega para a caricatura e não se aprofunda tanto quanto poderia.

A ideia de criar um espião brasileiro inspirado nos grandes ícones do cinema internacional é, por si só, promissora. Há espaço no audiovisual nacional para obras que misturam ação, humor e brasilidade, fugindo dos gêneros mais tradicionais explorados pela comédia romântica ou pelo drama social. 

Nesse sentido, o filme de Halder Gomes tenta abrir caminho para algo novo. Porém, a execução demonstra fragilidades, a narrativa se apoia em clichês do gênero sem conseguir transformá-los em algo original, e o humor regional, que funcionava tão bem em obras anteriores da dupla (Cine Holliúdy e O Shaolin do Sertão), aqui muitas vezes soa forçado e deslocado.

A história até começa bem, Karkará tem que investigar o assassinato de um cientista brasileiro. Só que o suspense, que poderia render bons momentos, logo se resolve de forma óbvia. O filme fica correndo entre piadinhas e sequências de ação, mas nenhuma delas segura o ritmo. Fica aquela dúvida: é uma comédia parodiando 007 ou uma aventura de ação pra valer? Essa indecisão acaba deixando tudo meio superficial.

Tudo foi filmado no Ceará, até as cenas que, na história, acontecem fora do Brasil. É uma decisão arriscada, mas que funciona em boa parte do tempo: o filme ganha cara própria e ainda valoriza o cenário nordestino. Claro, em alguns trechos fica meio difícil acreditar na “aventura internacional”, mas não dá pra negar que o resultado fortalece a representatividade e mostra paisagens que quase nunca aparecem nas telonas.

O diretor resolveu gravar tudo no Ceará, até as cenas que deveriam estar em outros países. É uma decisão corajosa que dá identidade ao filme e valoriza o cenário nordestino. Em alguns momentos a uniformidade pesa, mas a representatividade regional acaba ganhando força.

No campo da comédia, o filme acerta em algumas piadas pontuais, principalmente quando aposta no humor espontâneo e no uso criativo do sotaque e das expressões cearenses. No entanto, a repetição de piadas ala quinta série e a caricatura exagerada acabam cansando. O equilíbrio entre ação e humor, que poderia ser o diferencial da produção, nunca é alcançado de fato.

Em termos de identidade cultural, C.I.C. tenta afirmar um orgulho regional o Ceará como cenário para o mundo, o sotaque nordestino no centro da narrativa e a irreverência como marca. Essa proposta é louvável, mas o filme não consegue sustentar o peso de ser, ao mesmo tempo, homenagem e paródia. Fica preso no meio do caminho, sem a consistência necessária para ser memorável.

No fim, C.I.C. – Central de Inteligência Cearense é uma experiência curiosa, mas falha. Representa uma ousadia dentro do cinema nacional, mas sua execução limitada, roteiro previsível e tom desequilibrado reduzem o impacto da proposta. Edmilson Filho mostra mais uma vez seu talento e sua entrega, mas nem sua energia contagiante consegue salvar um filme que prometia reinventar a espionagem no Brasil e terminou sendo apenas uma comédia de ação mediana.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

GIPHY App Key not set. Please check settings

Written by Redação CB

Série “Queen Lear” conquista indicações e prêmios em novos festivais e alcança 2º lugar no ranking mundial 

De surpresa, Justin Bieber anuncia “Swag II”