Texto por: Elder Oliveira
“Coração de Lutador” (“The Smashing Machine”), a mais recente obra do diretor Benny Safdie, chega aos cinemas não apenas como mais uma cinebiografia esportiva, mas como um estudo visceral e comovente sobre a fragilidade por trás da força bruta. O filme mergulha na vida do lendário lutador de MMA Mark Kerr, mas o verdadeiro combate acontece fora do octógono, em uma arena de dor, vício e busca por redenção.
Esqueça o The Rock carismático dos blockbusters de ação. Em uma transformação que certamente marcará sua carreira, Dwayne Johnson entrega uma performance crua e surpreendente. Ele encarna Kerr não como um herói invencível, mas como um homem quebrado, assombrado por seus demônios. A câmera de Safdie, íntima e muitas vezes desconfortável, captura cada gota de suor, cada tique nervoso e o desespero no olhar de um campeão que está perdendo a luta contra si mesmo. É uma atuação que transcende o físico imponente de Johnson, revelando uma vulnerabilidade que o público raramente vê.
A trama, focada no auge da carreira de Kerr entre o final dos anos 1990 e início dos 2000, habilmente evita os clichês de uma jornada de superação triunfante. O roteiro não oferece respostas fáceis nem glorifica a dor. Pelo contrário, expõe a face sombria do esporte de alto rendimento: a pressão esmagadora, a solidão e a dependência de opioides como uma fuga da dor física e emocional. O filme é um retrato honesto de como a mesma máquina que constrói um ídolo pode ser a responsável por sua completa ruína.
Ao lado de Johnson, Emily Blunt brilha como Dawn Staples, a esposa de Kerr. Sua personagem é o coração pulsante da narrativa, travando sua própria batalha para salvar o homem que ama de si mesmo. A química entre Johnson e Blunt é palpável, e suas cenas juntos são carregadas de uma tensão e ternura que elevam o drama a outro patamar. Ela não é apenas um suporte para o protagonista, mas uma força essencial que impulsiona a história.
A direção de Benny Safdie (conhecido por “Joias Brutas”) é precisa em sua crueza. Ele filma as lutas não como espetáculos de ação, mas como explosões de desespero, e os momentos de intimidade com a mesma intensidade. A escolha por uma fotografia granulada e uma atmosfera quase documental aproxima o espectador da realidade sufocante de Kerr, tornando sua jornada ainda mais impactante.
“Coração de Lutador” não é um filme fácil, é uma obra que vai além do esporte para explorar temas universais como a masculinidade tóxica, o vício e a complexidade dos relacionamentos humanos. Ao final, a sensação não é a de euforia por uma vitória no ringue, mas a de um respeito profundo pela coragem de um homem em enfrentar seus maiores medos, mesmo que a vitória não seja garantida. É, sem dúvida, um dos filmes mais poderosos do ano, impulsionado por uma atuação que redefine um astro e uma direção que não tem medo de mostrar as feridas.
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