Por Elder Oliveira
“Jurassic World: Recomeço” tenta dar uma nova vida à franquia, mas ainda tropeça nas mesmas armadilhas que a tornaram previsível. Embora seja vendido como um “Recomeço”, o filme continua preso à velha fórmula: dinossauros geneticamente modificados, interesses corporativos duvidosos e decisões humanas que desafiam a lógica.
Na trama, Zora Bennett (Scarlett Johansson) e Duncan Kincaid (Mahershala Ali), dois mercenários experientes, aceitam uma missão milionária oferecida por Martin Krebs (Rupert Friend), representante de uma gigante farmacêutica. Ao lado do paleontólogo Henry Loomis (Jonathan Bailey), o grupo é enviado à ilha Saint Hubert, uma antiga base da InGen, para coletar o DNA de três espécies raras. A ideia é utilizar o material genético para criar medicamentos capazes de prever e tratar doenças graves, mas, claro, apenas acessíveis à elite mundial.
O filme se inspira nos livros de Michael Crichton, criador da ideia original que deu vida ao Parque dos Dinossauros. E embora a essência da ficção científica e da crítica à ganância humana ainda esteja presente, “Recomeço” também incorpora um novo elemento: o próprio mundo do filme está cansado dos dinossauros.
A coexistência forçada entre humanos e essas criaturas, após os eventos de Jurassic World: Domínio, causou tanto caos que a sociedade já não vê mais essas feras com fascínio, e sim com incômodo. Essa metáfora se encaixa perfeitamente no sentimento de muitos fãs, que começam a questionar até quando a franquia conseguirá se sustentar.
O pano de fundo tem potencial, principalmente ao recuperar o espírito de exploração científica e ganância corporativa que marcou os primeiros filmes. No entanto, a execução escorrega em clichês: a missão dá errado (como sempre), surge uma nova ameaça monstruosa, um híbrido mutante com tentáculos e o grupo se vê preso entre a sobrevivência e dilema moral.
Mesmo com uma trama batida, o elenco entrega o que pode. Scarlett Johansson constrói uma Zora pragmática e fria, Mahershala Ali traz intensidade ao estratégico Duncan, e Jonathan Bailey dá alguma leveza ao idealista Henry. Nenhum deles tem muito espaço para desenvolver seus personagens além do necessário, mas conseguem manter o filme minimamente envolvente.
Gareth Edwards, na direção, tenta imprimir um clima mais tenso, aproximando o tom de terror que fez do Jurassic Park original um clássico. Algumas cenas de perseguição são bem conduzidas, os efeitos visuais continuam impressionando, e há uma boa dose de fan service com referências à trilogia original.
O roteiro, coescrito por David Koepp, responsável pelos primeiros filmes da franquia, busca equilibrar nostalgia com novidade, mas não vai muito além disso.
Recomeço funciona como um “soft reboot”, não apaga os eventos anteriores, mas tenta contar uma nova história com novos personagens. Dá para assistir sem ter visto os outros Jurassic World, o que pode atrair novos públicos. Ainda assim, para os fãs antigos, o déjà-vu é inevitável.
No fim das contas, Jurassic World: Recomeço não é um desastre, mas também não renova de verdade a franquia. Tem bons momentos, um elenco de peso e um visual caprichado. Mas para justificar seu título, precisaria de mais ousadia e menos repetição.
Lançamento previsto para o dia 3 de julho.
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