O isolamento da pandemia foi um período marcante para toda a população, tanto para aqueles que temiam o vírus quanto para os que o consideravam só uma “gripezinha”. O diretor Olivier Assayas (Irma Vep, série e filme) teve o privilégio de passar essa época na casa em que cresceu e, imerso na nostalgia desse local, decidiu escrever esta “comédia” biográfica sobre seu cotidiano pandêmico.
Os irmãos Paul (Vincent Macaigne), um diretor de cinema, e Etienne (Micha Lescot), um jornalista musical, estão confinados na casa de campo da família, no interior da França, junto com suas parceiras Morgane (Nine D’Urso) e Carole (Nora Hamzawi). O confinamento os obriga a encarar suas diferenças ao mesmo tempo em que as lembranças de uma infância doce e pacata marcam seus dias.
Apesar de o longa ser construído com base no cotidiano dessa casa e nas interações entre os irmãos para gerar as cenas que trariam humor à história, tudo o que temos são discussões que, sim, são interessantes, mas falham miseravelmente em arrancar uma risada.
Paul é extremamente nostálgico em relação à sua infância, ainda lembrando com saudade dos momentos nos bosques próximos à sua casa e das interações com seus vizinhos. Ele se refugia nos resquícios das memórias, como a biblioteca do pai e o quarto da mãe. Além disso, tem um pavor de germes (ou, pelo menos, do Covid-19), um medo que é martelado durante todo o longa.
Etienne, por outro lado, odeia cada segundo do confinamento. Sua ânsia por escapar daquelas lembranças e, mais que isso, voltar a ter liberdade e convívio social, o faz projetar todas as suas frustrações no irmão, que, ao mesmo tempo que teme o isolamento, ama a paz e a tranquilidade que ele proporciona.
A representação do que sentimos nesse período é o principal ponto do filme. Olivier acerta na reflexão sobre o convívio entre irmãos que cresceram juntos, mas se tornaram pessoas opostas, e nas dúvidas sobre o temor de uma doença incerta contaminando o mundo inteiro. Porém, em um filme com essa estrutura rotineira, é necessário um roteiro extremamente calibrado para acertar os tons e não deixar a narrativa cair na monotonia. A falta desse equilíbrio torna o longa tão tedioso quanto o próprio isolamento.
Suas cenas de humor são capazes, no máximo, de arrancar um leve sorriso de canto de boca, o que não é suficiente para anestesiar as longas horas de reflexão.
Apesar disso, ambos os irmãos entregam atuações excelentes, transmitindo com precisão a essência do que estão sentindo. Suas respectivas companheiras funcionam como um equilíbrio, especialmente nas cenas de Etienne.
Na questão técnica, a direção não apresenta momentos surpreendentes, até porque não é algo de que o filme necessita. No entanto, os trechos em off de Paul ajudam a compreender melhor sua relação com o passado e as memórias que o confortam, ainda que possam soar levemente expositivos para alguns.
O destaque da fotografia de Eric Gautier está no uso do básico bem-feito para trazer a ternura que só a casa de nossa infância poderia proporcionar. Além disso, a vegetação é explorada para criar uma sensação quase etérea, reforçando o privilégio que Olivier Assayas teve ao passar esse período em um local suspenso no tempo.

O longa tem estreia nacional prevista para o dia 20 de março.
GIPHY App Key not set. Please check settings